terça-feira, 31 de julho de 2012

(sem título) - Rolando Vezzoni

Ele estava naquele cômodo.
Dum lado uma centena de lacunas, abismos, espaços vazios... Um puro espaço potencial a ser ocupado por bestialidades, futilidades e maravilhas.
Noutro vê-se algo como uma estante, repleta de matéria e referência, réplica e interrogações, uma parede branca suja com uma projeção de filme em preto e branco, mesclado por sujeiras escarlates e cheiro de ressaca, passando aquelas coisas todas em um loop inconstante e surpreendentemente inovador, emocional, magoado e conformado.
Na frente não há paredes, é um espaço de contemplação variada, simples, um contato com o "não-sei" escarrado pela latência.
Ele olhou pro cômodo todo, incomodado, no cômodo incômodo.
Não tem muito jeito, quando se lembra que se está ali, entender que é tudo fluxo, corrente, e não tem retorno, no fundo dos cômodos só se tem a parede... Bom, ele acreditava nisso, no imperativo básico do momento, do inevitável "estar" e no pretender, na ausência de sentido de "ser", um agora que é olímpico.
Era olímpico, mas não é mais, porque está permanentemente sendo subjugado por outro agora.
"há!", Essa foi a única onomatopeia cabível a seu raciocínio, um grunhido pulsional seguido por uma quase erótica exclamação... "já que da vida, só se herda ponto final!"
E continuou prosseguindo no cume de sua sobrancelha, na prisão de marfim branco contemplativa, pois ele não vive lá, é aquilo lá. Ao menos até se esquecer de tudo isso e ir trabalhar...
Há!