quarta-feira, 13 de junho de 2012

Atmosfera sombria - Bruno Santana


como passar frio na neblina Londrina
ou estar faminto em Paris;
mas isso, nunca viverei.

Passarei vergonha em uma rua elegante
entre garotas bonitas
e seus seguranças
enquanto ostento uma camisa desbotada
e esgarçada;
assim como a alma dos que vivem bem
comem bem
vestem bem
e cheiram bem.
despeito talvez
Mas, é apenas o que a vergonha causa,

E excita
e cria a Atmosfera sombria;
negra e fria,
na tarde desocupada,
entre livros pesados e músicas complexas
e desenhos preoucupantes
e calculações sem sentido
de uma vida que brota
nasce em negro
e não é cegada pela luz do sol.

Não preciso da noite para escurecer.

Negra para capturar,
toda forma de energia que encontrar
e nunca dividir
nada de si
por que o negro não fala,
o negro escuta,
o negro absorve.

Não preciso da noite para escurecer.

talvez seja uma tonalidade a ser desaprovada,
por pais e professores de pintura,
por encardirem os quadros
mas, em realidade, aqueles que a sabem usar
são os verdadeiros mestres
mestres no escuro.

Não preciso da noite para escurecer.

domingo, 10 de junho de 2012

Soneto á Van Gogh- Rolando Vezzoni

Eu tenho uma arma, ela brilha e corta
e tenho uma pintura brilhante e torta.
Com o pincel, Gouguin também brilha,
e meu sangue opaco, é uma maravilha.

O quadro foi perfeitamente executado,
o corte foi um perfeito fracasso.
O corte fez um estardalhaço,
e o quadro foi guardado.

Meu sangue foi devidamente envelopado,
e meu amor á puta há de ser lembrado,
foi isso que li, obviamente não ouvi.

100 anos se passaram, e já sou um cadáver putrefato,
se fosse bicentenário seria um milionário de fato.
Mas não fui, não tive a puta, Gougin, sucesso ou sequer orelha.

domingo, 3 de junho de 2012

Numero sete- Bruno Santana


Quatrocentos e vinte garotos pensam na vida:
Número um fuma;
Número dois parou;
Número três pinta;
Número quatro desenha escondido;
Número cinco malha;
Número seis toca violão;
Número sete escreve;
Os  quatrocentos e treze restantes pensam em garotas.
Muitas pensam no número um;  ele não pensa em ninguém. Ele pensa com o seu cigarro; o cigarro é tudo que precisa.
Nenhuma pensa no número dois, por isso ele decidiu parar. Parar de fumar, tomar banho, fazer a barba, esconder as espinhas, combinar  as roupas, ficar sóbrio e falar com aquela em que ele pensa. Foda-se se ela não pensa nele.
A modelo nua pensa ter fisgado o número três com seu corpo, mas número três está bem preocupado com o tom de seu cabelo e o preço das telas. Depois da sessão eles vão transar, mas ele, realmente, se preocupa com o preço das telas.
A única que pensa no número quatro é a mãe. Pensa que o filho está doido. Não sabe por que o menino ficou tão sozinho e acabrunhado.
Número cinco pega todas. Número seis também, mas  número seis é um bom rapaz. Sim, sim, ele é um bom rapaz.
Número sete escreve porque já fumou. Já parou quatro vezes. Tentou pintar, mas detestou o que viu na tela. Ele, definitivamente, tem medo de ser internado. Número sete já tentou fazer academia, mas é entediante demais para ele. Ele toca violão.
Toca violão e pensa em todas as quatrocentas e treze outras garotas.
Ele pensa em tudo. Garotas, garotos, cigarros, violões, quadros, academias e romances.
Não, romances não. O número sete parou de pensar em romances.