quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O que é amor?- Fernanda Mendes

Este texto não é mais um que fala de um sentimento ao qual as pessoas se prendem, pois vêem em outra a sua “cara metade”. Este trata de um significado de amor que as pessoas conhecem, mas passam por cima.
Isso só se apresenta às pessoas que estão submersas em um vazio, solitárias, e vêem no outro a chave para a liberdade.
Muitas pessoas subestimam o “Amor Platônico”, mas a verdade é que, o nosso sentimento é baseado nele. Nós, seres humanos, somos sentimentais, movidos pela emoção. Vemos em outra pessoa nossa idealização de ser humano perfeito. O que sempre fazemos de errado, é insistir que essa pessoa possa mudar de maneira a se tornar o que eu quero.
Muitas das vezes quando ouço “ vou pegar geral!” , reflito sobre a nossa condição humana. Na maioria das vezes as pessoas fazem isso, porque não se acham capazes de gostar para construir um relacionamento sério, ou, porque aqueles que querem algo sério não são tão bonitos quanto os desejos de consumo.
Na verdade, quando agimos dessa maneira, valorizando a quantidade, caímos em um vácuo, e perdidos neste buraco negro aumentamos ainda mais nossa plenitude de desconforto e descontrole.
Acareamos uma situação de aporia, fingindo ter o controle, nos achamos soberanos, mas não nos damos conta que ao invés disso, sequer encontramos os caminhos que nos levam as respostas para os questionamentos mais singelos de nossos íntimos.
Presos a um sistema inabalável, inatingível e intransponível, como em um poço de areia movediça, quanto mais nos debatemos, mais rápido ele nos suga, e se vivemos de forma alienada, a concordar com ele, a morte súbita se distancia, e conseguimos fingir que sabemos o que é amor, paz e esperança mantendo o medo em lugar seguro, não vivemos, mas sobrevivemos.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Numa noite sem estrelas, dance com insetos- Rolando Vezzoni

Estava sozinho em casa lendo,
liguei a televisão e coloquei no canal de música, jazz clássico, e deixei rolar.
Respirei fundo e aumentei bastante o volume, tocava uma música sem vocal, só som, levantei e fui até a porta, acendi um cigarro, a musica prosseguia com alto e bom som, suave, leve.
Respirei fundo, e fiquei sem pensar, meus pensamentos haviam sublimado com a música, me deixando bastante confortável, o bastante para sentar no chão e olhar para cima, era uma noite comum de São Paulo, seca e relativamente fria, com um céu chumbo bem escuro, imperativo.
Comecei a estalar meus dedos junto com a música, fazia tempo que não aproveitava uma musica tanto assim, balancei minha cabeça devagar e deslisei meus olhos para o alto á esquerda, onde havia um poste de luz o qual lembrava aqueles antigos á óleo, mas a luz que vinha de lá era branca, prateada como a lua que se escondia atrás da poluição metropolitana, ao redor havia uma infinidade de insetos que iluminados por essa luz pálida me lembravam estrelas, mas ao invés de paradas, divagavam desordenadamente, em ritmos diferentes como os da musica que ouvia(seria dodecafônica?).
Aquele retrato me cativou de forma que fiquei uma centena de anos olhando, não pensei em nada além daquele balé de insetos embalados pelo jazz clássico.
Quando a cidade anoitece sem silêncio, coloque um "sax" por cima, quando sem lua, acenda um poste de luz branca e branda, e acima de tudo, numa cidade sem estrelas, dance com os insetos.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

(sem título)- Rolando Vezzoni

A bebida é a falha, o homem de fato
e o mal humor, é a sequela por se-lo.
Sou infeliz por ser homem.
Quando sóbrio, sorrio á infelicidade,
ando fingindo ter um objetivo,
quando na verdade,
casei com uma vida sem sentido,
e quando deixa-la...
O homem continuará constipado, e sendo punido.

Por isso a falha é tão doce, nos aproxima do inexorável fim com efeito entorpecente!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O que fica- Bruno Santana

O que é o poeta?
Cinza de cigarro batido,
página de diário esquecido,
dor de amor remechido?

Qual sua ocupação?
Vadio,
Deus,
Irmão?

Nada!

O poeta é o nada!
Em nada se ocupa;
em nada ajuda ...

Ajuda na labuta [Chico]
Ajuda na cicuta [Sylvia]
até se a rima é fajuta [...]

o homem abstrato, episódio 2 - Rolando Vezzoni.

(a infância)

-Sr. diretor, está tudo bem com meu filho?
-Olha sra. Silva, estamos muito preocupados com o seu filho...
-Mas, o que houve?
-Veja bem, já havíamos percebido a um tempo que ele é pouco interessado nas aulas, aéreo, o que é comum num menino de sete anos, mas essa semana ela não fez nada, passou as aulas desenhando, e se recusa a fazer a lição, e mesmo depois de insistirmos e o colocarmos de castigo continuou sem faze-lo.
-Oh! Ele sempre foi uma criança diferente, mas não imaginei que fosse dar esse tipo de problema! O que falaram para ele?
-Falamos sobre o "certo e o errado", e como ele deve fazer as coisas, mas ele não conseguiu entender, acho que pode ser necessário encaminha-lo a um terapeuta!
-Vou falar com ele, e ver se sai alguma coisa, onde ele está? Oh! meu filhinho!
-Está naquela saleta.
...
-Amor, é a mamãe, preciso conversar com você... por que não tem feito as lições?
-Por que eu não quero, não é legal e é burro!
-Mas o certo é fazer a lição, e é errado desobedecer as regras, você consegue entender isso?
-Uhum, só que não tem sentido, mamãe.
-Como não meu querido? Fala pra mamãe.
-Cada amigo que eu pergunto o que aprendeu que é errado, muda tudo, a professora e o diretor e você também!
-...
-eu não gosto de lição, eu não quero mais! E se cada um tem seu certo e seu errado, eu também tenho o meu! Não quero ser chato e bobo que nem o pedrinho, que faz tudo certo pra todo mundo e por causa disso acaba fazendo coisa que não gosta e que um outro menino ou menina não gosta!
-...
-quem anda te falando essas coisas moleque!??!?!?!?!?
-ninguém mamãe...

...

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

apenas humano- Rolando Vezzoni

Numa conversa percebi, que pouco me importo.
-S-seu nojento individualista!
-Que absurdo!-e ainda praguejam- Egoísta!
Para que tanto se preocupam como penso, como me porto?
-E quanto...- procuram me expor. -as crianças da África?!
-Prefiro-as felizes, mas se não, não ligo.
-Eee... a extinção da arara azul? -insistem - como fica?!
-Que posso fazer se não é comigo?
-Como pode ser tão frio?e quando ama alguém?
-Amo as pessoas que amo com um amor egóico...
amor que ama, claro, amo e sinto falta também!
mas não me martirizo, não sou um sujeito heróico!
-E se perde alguém?- escandalizam-se - chora?
-Sou ateu, apolítico e amoral, mas veja, sou humano,
e como um sinto tudo, a priori, posteriori, e claro, agora.
Percebi a razão de pouco me importar, ser apenas humano.