terça-feira, 29 de junho de 2010

a fenda- Rolando Vezzoni

Saiu correndo, não queria ser preso, não lhe parecia uma boa idéia, e foi assim que chegou até aquela cidadezinha no meio do nada, chamava-se “Satisfatópolis”.
Cidade limpa, casas parecidíssimas, havia apenas um boteco que monopolizava o público da cidade.
Sabendo que ninguém lhe acharia ali, tranqüilizou-se, e foi ao tal do boteco, “João sem cérebro” onde ele descobriu, que não vendiam-se entorpecentes, e sim tiravam pedacinhos do cérebro e lhes davam em troca prazer e uma peruca.
Saiu relativamente consternado de lá, e bastante enjoado.
Andou para bem longe e entrou num cinema... Várias pessoas(?) vidradas olhando para a tela, o filme ainda estava para começar... “o dia em que nós achamos o que fazer com os livros”, produzido pela “microcéfalos felizes” e dirigido e filmado por um tal de “ Walter Ego’co Letivo”. O filme se baseava em apenas uma imagem, uma fogueira imensa e vários mamíferos bípedes jogavam livros e mais livros nessa fogueira, (o filme era algo semelhante a um descanso mental de um homem senil com uma doença degenerativa e crônica) depois de alguns minutos sentia sua cabeça explodindo, não dava para continuar ali, o que o levou a sair correndo novamente.
Continuou correndo pela cidade atrás de algo, o qual nem imaginava o que fosse, sabia apenas que não seria como o povo de Satisfatópolis, e também não queria ser preso, continuava não lhe parecendo uma boa idéia... ficar preso naquelas bandas não era uma boa ( dizem que tem paredes brancas como marfim, e a comida é uma massa cinzenta nada apetitosa, e que, se consumida em grande quantidade, causa seqüelas mentais ).
Viu -se de repente correndo sem mudar de lugar, depois que se tocou, olhou para baixo e começou a cair num precipício (maravilhosamente mórbido e interminável) conhecido como “verdade” ou como “conhecimento”.
passaram-se anos, e ele continua caindo, não está na cidade, na prisão e tampouco encima do muro, deveria estar ele em algum tipo de fenda( numa... fenda?)...

Fumaça- Lígia Fernandes

Caminhando sem rumo, tropeçando nos próprios pés. Tombando de um lado para o outro, sem conseguir encontrar seu ponto de equilíbrio, encontrou um poste e ali parou. A luz estava apagada. Um breu total...

As vontades e desejos da manhã resumidos em trapos. A vontade de viver já não é a mesma, aliás, pra que viver? No momento, a única esperança que tinha, a única luz visível, era o fogo do isqueiro que, de tempos em tempos, era apagado pelo vento. Nem isso era certo.

Deu um trago... A fumaça lhe encobria todo, era capaz até de sentir o cheiro da moça, o cheiro da roupa impregnada de cigarro. Sentiu-se abraçado... Não, ela não está aqui! Ficou louco...

Lembrou-se, então, como fora a despedida. Berros, tapas, cacos de vidro no chão. A porta bateu. Por isso estava ali caminhando sem rumo, tropeçando nos próprios pés.

domingo, 27 de junho de 2010

é noite?- Rolando Vezzoni

É noite(parece noite), e uma ladeira, descendo indefinidamente, na qual passa um vento seco e frio, que corta o rosto como navalhas.
Passa a mão pelo rosto, fecha o olhos respirando fundo, muito fundo, e olha devagar a sua volta.
Prossegue (despenca) ouvindo baixo uma musica a qual lhe percorria como uma gota de suor, e enquanto escorre por seu pescoço, percebe que o tempo está, de fato, passando.
Escutava agora diálogos aleatórios, redondos e redundantes, não poderiam ser chamados de diálogos, era mais como palavras lançadas sem nenhuma importância(nem para o lançador, nem para o rebatedor)... Estas caiam como neve congelando sua cabeça.
Havia casas e camas espalhadas pela rua, homens de terno com moças de cabelo alisado, crianças pequenas e perdidas vestidas como adultos(não seguravam brinquedos, apenas uma pena)... Tudo isso lhe sufocava em quadros sobrepostos e repetitivos temperados com uma névoa pesada que lhes escondiam os rostos(não faz diferença, são apenas figurantes).
Esses agora param, olham e apontam rindo de uma figura tão desencaixada descendo uma ladeira a qual não via mais beleza nem sentido, apenas um chão cinza cheio de pernas sem cabeça.
Eles sabem que existe ALGO, apenas não sabem O QUE é... E ele também não.

Pobre Diabo- Caio, Enzo, Turella, João Pedro e Julian

Eu,
somente com visões,
acabei com toda a minha esperança moribunda,
e me despertei do azul impalpável.
Uma imensa sofridão,
oriunda do meu peito apertado,
do ranho divino, promovido pela Igreja.
Sou agora O Maldito!
que te pertuba em meio ao sonho bom;
entoando toda noite,
a Ode ao Terror.

Silêncio com café- Lígia Fernandes

Cheguei em casa e lá estava ela: sentada no canto da sala lendo Alberto Caeiro e seu realismo sensorial. Estava frio. Era inverno. A luz que entrava e a aquecia vinha somente por uma frestinha não coberta pela cortina. Estava linda, radiante. Tão concentrada na leitura que passei despercebido. Fiquei, então, a observando apoiado na porta. Suspirei - como é boa a sensação!!

Senti que me notou, pois já não mudava de página há um tempo. Vi uma covinha, de leve, aparecendo no canto esquerdo do rosto. Seus olhos castanhos e profundos se levantaram até chegarem de encontro aos meus. Foi aí que iniciamos um longo diálogo num silêncio capaz de nos deixar ouvir até a poeira visível no feixe de luz cair no chão.

Ela se levantou. Eu sorri, por um instante a vi andando até mim, me beijando, me abraçando com toda aquela paixão misturada com o medo de me perder. Mas se abaixou. Sentou-se no chão sem desligar os olhos castanhos dos meus. Estava, de alguma maneira, me chamando. Sorri e andei. E sentei-me ao seu lado.

Agora, também sentia o feixe de luz me aquecer. Não só isso, havia, também, o calor dela, o nosso calor. Deitou a cabeça em meu colo e seu olhar me pedia um cafuné. Aquele cabelo macio e cheiroso... Queria era me deitar ao seu lado, abraçá-la... Não me contive aos cabelos. Minhas mãos contornaram o mais perfeito corpo, caminharam o mais prazeroso caminho. Nós dois sempre sorrindo. Conversando sem palavras.

Ela, então, se levantou e correu. Rapidamente voltou, com duas canecas de café preto. Foi ali que ficamos o resto da tarde, foi assim que ficamos o resto da tarde: tomando café e conversando num silêncio capaz de nos deixar ouvir até a fumaça quente do café se desfazendo ao encontro com o ar frio do inverno.

Devaneio- Giovana Vilela

As marcas do tempo sempre me encontram. Seja no pé daquela janela de madeira, seja nas rugas da minha velhice precoce. O amor que já não pertence a mim bate na porta novamente. Porém, outra vez me decepciona, indo em direção contrária. E me confunde: não sei se estou aqui ou ali. Permaneço com os ouvidos por perto e o olhar distante. Procuro os olhos dele, enquanto sou censurada por outros. É tudo questão de olhar... e amar. Será que ele pensa em mim? Será que EU ainda posso pensar nele? As mil juras de uma vida entregue àqueles braços me atormentam e me encontram. Assim como as feridas de outrora, durante os constantes devaneios. Tenho medo de me entregar. Sei que vou sofrer. Não sei se vivo o presente, o futuro ou o passado. Cada um com surpresas ou perigos. E o último com mais lembranças. Que sacodem o meu sono e me fazem sufocar. Muito cedo o telefone toca e me recuso a atender. O vento sopra e fica ainda mais difícil esquecer.

O gorfo- Rolando Vezzoni

Caindo de um lado a outro da rua(novamente, mas isso não vem ao caso), lúcido, lúcido o suficiente para perceber-se perdido... Sabia por onde e para onde iria, mas não onde se situava.
“pá!”, sim, agora caiu de fato. De novo.
Não parava um segundo sequer de perguntar se algum dia voltaria a ser feliz, ainda mais agora que nem mesmo entorpecido consegue a tranqüilidade e a satisfação que a tempos vinha esquecendo como era... Era ... Era..? Voltara a sentir-se uma presença, um encosto, que vagava por ai pensando, comendo e bebendo sem se encaixar, apenas ali(de tempos em tempos respirava também, mas vamos chamar isso de irrelevante).
Levanta-se, e volta a cambalear para... Casa(?) quando passa uma viatura, oferecendo-lhe carona, ahh... Se houvessem viaturas que te ajudassem o tempo todo.
Acordou... Sede, fome, corrosão e dor de cabeça. Vai ao banheiro, pisa em vômito, aspira aquele odor triste, e lembra de como aquele barato não havia lhe deixado feliz, frustrou-se( tem ocorrido freqüentemente com tudo, agora já era ateu, neo-platonicista e maltrapilho)... Agora seu barato é sofrer careta, não vê mais tesão nem em se destruir.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Listras- Caio, Enzo, Turella, João Pedro e Julian.

Fui listrado logo que cheguei;
e posso dizer que isso me felicitou,
pois ao me camuflar por entre as zebras e os tigres,
me ligo ao meu lado animal.
Porém, na realidade,
a racionalidade em mim
desabroxa um sentimento de saudade.
Saudade de meus...
De meus...
Na verdade não me lembro mais.
Faz tanto tempo que,
não me lembro mais das listras
Já não me lembro mais das listras, listas.
Listas ou listras?
Me doí a mente (medonhamente).
Passo a passo,
eu perco o compasso,
da minha música, da minha vida.
Está chegando...
Onde não desejo estar.
O navio está cheio,
cheio de listras.

sobe... desce, sobe... cai!- Lígia Fernandes

Eu cai. Cai do penhasco mais alto que já pude escalar.

Na vida, passamos por altos e baixos, mas por que raios os baixos predominam?! Talvez pelo fato de que subir requer uma extrema força de vontade e muita energia. Mas quem, em sã consciência, quer ficar por baixo? Eu tenho desejos e vontades de estar acima! Me falta energia.

Todas as minhas forças se resumiram a uma: a força da digitação de textos que superficial e momentaneamente me fazem bem.

domingo, 20 de junho de 2010

a máquina de opinar- Rolando Vezzoni

idéias, idéias, opiniões... bah!
essa idéia de ter que para tudo opinar?
até aquele que não sabe em quem está votando?
o cabecinha, a maquininha, veio para me enojar!

"tire seu título doutor!"
"mostre sua participação!"
sugiro que sejam mais didáticos,
e menos simpáticos!

não deveria ser necessário,
explicar que...
bom, que você...
DEVE DISCERNIR,antes de virar essa MÀQUINA de opinar no 16o aniversário!
agendadeumaadolescente.blogspot.com/

sexta-feira, 18 de junho de 2010

o parque- Rolando Vezzoni

Às vezes eu vivo em um parque.
Todas as pessoas, azedas ou doces, tem seu lugar.
No parque todas as tardes são de sol, eu posso ficar sentado olhando.
Vejo os vivos, as crianças e todos aqueles que ainda não perderam seus sonhos.
Dormem lá meus últimos sorrisos, meus últimos abraços, e amores.
Eu queria sorrir, ou quem sabe, novamente abraçar alguém com paixão.
Não, eu já não posso mais pisar na areia, nem sujar minhas as mãos. Acho que estou muito velho para isso, eu sempre fui muito velho para isso.
Não sei porque as pessoas do parque me parecem sempre tão belas.
São como dançarinos com passos eternamente corretos e perfeitos, por mais que simplesmente não tenham nenhum sentido.
Lá tem um menino e uma menina. Os dois se olham, os dois se amam.
Há um gordinho com um cachorro. E eles, companheiros, conversam por horas.
Existe também uma mulher que vive andando com seu bebê. São incríveis, brilham como uma só alegria.
E eu sempre vejo um senhor, com sua netinha. Ela estica seus braços rindo, e gira, e gira, e gira...

(sem título)- Vitor Guidi

Eram Joaquina e João macacos numa realidade circular e azul.

João saía de casa para trabalhar.

Joaquina ficava em casa pra se arrumar.

João queria Joaquina. Joaquina se aproveitava de João.

Para João conseguir joaquina deveria trabalhar. Tinha uma perspectiva linear do mundo.

Joaquina conhecia duas linhas: uma da imagem e outra da manipulacao.

Duas linhas que, sobrepostas, davam conta do jogo social e garantiam seu modo de vida.

Ao mesmo tempo havia um ponto de cor de burro quando foge no céu.

João não o via porque o teto de seu carro e o telhado de sua casa encobriam sua visao do céu. Era ocupado demais para perceber aquele ponto.

Joaquina ignorava-o por completo. Que valor teria uma aberração dessas quando há um shopping center perto de casa?

Ao mesmo tempo havia José, chimpanzé por excelência. Não conseguia segurar o proprio rabo: sempre o metia onde nao devia.

Um dia viu o ponto, e resolveu que ia meter o rabo lá. Mal sabia ele o que tinha feito.

No dia seguinte deu na tv:

"Macaco sem rabo corre dizendo loucuras pela cidade."

No caminho pro trabalho joao viu o tal do macaco sem rabo: o animal levava consigo uma tábua riscada com símbolos estranhos. Profanava o tão idolatrado modo de vida, obtido a partir de tanto suor e sangue na guerra dos gorilas.

O modo de vida garantia fartura e diversão, mas o macaco sem rabo traiu o senso comum: abandonou o tao amado padrão social dos primatas.

Simples assim- Lígia Fernandes

Não sei como, não sei porque, mas foi, simples assim, que me encantei. Aquela simplicidade toda, oh, grande simplicidade!, que pairava no ar era apenas, somente, simplesmente uma síntese. O resumo das mais diversas sensações, ora conectadas, ora contradizendo-se. Seja o desconforto causado pela tamanha felicidade ao meus olhos encontrarem os teus, seja pelo nervosismo ligado à ansiedade.
Aquele silêncio incômodo que repentinamente nos confortara de tal maneira...
Fora tudo tão complexo, mas simples assim.
Pois a simplicidade do que é complexo nada mais é do que o óbvio inexplicável.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Além da Janela- Lígia Fernandes

E quantas tardes não me pego olhando para a janela? Além da janela. A Natureza, o pôr-do-Sol.

Agora mesmo, estava lendo Maquiavel e em um certo momento de suspiro, me espreguicei. Ergui a cabeça e ela não baixou. Meus olhos vidraram em algo que não as letras do livro. O cérebro tampouco lembrava do texto. Encontrei o Sol, na verdade, o pôr-do-Sol.

Pensei em pegar a câmera. Impossível, minhas pernas não respondiam. Nada em mim se movia, nem meus olhos piscavam.

Por mais que o Sol se ponha todos os dias, é fato: o pôr-do-Sol nunca se repete. E esse é o motivo para minhas pernas não se moverem, nem meus olhos piscarem.

Há os que não têm graça, os que produzem um céu vermelhamente impossível. Aqueles que são apenas uma bola laranja no céu e outros que o pintam como uma tela de aquarela em tons alaranjados, tons fins-de-tarde. Mas cada um com sua peculiaridade, nos provocando as sensações e os desejos mais diferenciados.

A procura freudiana dos homens- Rolando Vezzoni

Eu lhe FALO,
eles tambem na televisão.
Essa é a ferramenta que reproduz a civilização.

No brinquedo das crianças,
no avião,
e na frente das vidraças
embaçando sua visão.

A procura do internauta,
na roupa do astronauta!
Mas como diria o homem astuto:
"...mas as vezes um charuto é apenas um charuto"

aurora- Tomás Fernandes

Quando me levanto e vou para a sala tudo é estranho, distante e pouco familiar. Volto logo com água da cozinha friamente branca, para molhar a boca cinza, seca dos cigarros que dão o gosto esfumaçado de meu quarto; apenas para acender outro e olhar mais uma aurora que chega depois de uma noite insone de rolar de lado para o outro e depois o outro e o outro, em meio a algum semidelírio de quase sonhos numa noite que pelas frestas da janela era tão escura, sem estrelas e cada vez mais densa até atingir um ponto em que lentamente se esfacela como um quadro que alguém vai raspando a tinta até transparecer um sol vermelho entre as nuvens marrons de poeira(porque agora só há horizontes de poeira).
Sento-me na cama e penso nos corpos que deitaram nela, rolando ou dormindo e acabo pensando em um específico por deslize e por isso acabo procurando as marcas deixadas por ele, mas acabo lembrando que esse corpo é algo como uma pessoa e as enormes marcas que deixou há muito desapareceram daqui. Ainda assim agora sinto como a sua presença nesse lugar que me é tão familiar(quarto esfumaçado e sujo, mas meu quarto esfumaçado e sujo), que contém tantas outras histórias que não me lembro(e algumas que nem sei, mas ai o quarto nem era meu); e se incorpora em todos os cantos: na cama, na poltrona, nos livros, nos cds, nos quadros, no telefone, nas paredes...O espaço que era de dois volta a ser para depois voltar a ser de um, até que outra pessoa e não corpo tome de novo esse lugar, tirando os chinelos e se aconchegando nesse espaço entre meus braços, para agüentarmos o frio cortante de mais uma noite escura que teima em passar pelas frestas da minha janela.
Mais uma vez voltarei à sala para tomar café e fingir que não dá para ouvir os ônibus e carros e trens e metrôs passando e levando a gente pro trabalho, enquanto se insinua mais um dia pela luz vermelha que entra pelas janelas e a gente tenta esquecer tudo isso e fingir que dá para passar o resto dos dias na cama vendo o sol nascer e morrer levando e trazendo o frio cortante de noite após noite, mas a questão toda é que já estamos na sala e enquanto tentamos falar disso tudo os sons de buzina vão nos cortando e os ponteiros dos relógios até que os dois saiam, dêem um beijo e um dos dois diga até de noite e o outro responda até de noite.
Mas voltam, mesmo que de outra forma; porque as pessoas como os dias têm formas diferentes, mas sempre voltam.

tarde quente- Giovana Vilela

E ela passa pelo seu lugar preferido no caminho de volta para casa. Lembra de como a vida AINDA é bela... Só por causa dos mais (in)significantes eventos, como uma converça com sua irmã, ou um por-do-sol sobre as ondulações da montanha mais proxima.
E suspira, após inspirar o ar quente da inóspita tarde de outono...
Não era normal.
Não era esperado, mas ela ela sorri, pois as simples coisas da vida a fizeram pensar... E esquecer.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

(sem título)- Rolando Vezzoni

"tudo que sei é que nada sei"

saber?
saber que fui,
se fui um ser,
ou se haverei de se-lo
ou perder o ser
antes do conhece-lo.

saber?
como sei se outro sabe
mais que o que diz que não sabe,
pois se não sabe pode aprender,
como aprendendo ainda não se sabe?

saber?
se sabe que não o sabe,
o que é o saber
que se houver de ser,
não pode não ser,
como agora não mais existe?

nada.
nada.
e nada?

"tudo que sei é que nada sei" dizia Sócrates...

terça-feira, 8 de junho de 2010

Viver, Esquecer ou Recordar?- Lígia Fernandes

Eles se viram, se falaram, se conheceram. Há apenas uma semana se falavam, mas aconteceu. Ele, de modo repentino e apaixonado, se declarou. Ela, em meio a confusão dos pensamentos adolescentes, não soube o que dizer, mas seu sorriso deu-lhe a entender que algum sentimento era recíproco.
A mulher é atrapalhada por si só, imagine com um homem envolvido? Pois é, no caso, eram dois. Ela estava de caso com um grande amigo, o qual tinha fortes sentimentos por ela e vice-versa. Não sabia o que fazer numa situação como essa, a saída era se trancar no quarto, sumir da vida. Chorar. Fora uma época de grande desidratação ocular. E, como se não bastassem as suas confusões, Ele mostrava pensamentos opostos a cada momento - ora sim, ora não; ora quer, ora se desinteressa - e isso a deixava nervosa e mais confusa. Conversavam e chegam em consenso: "paremos por aqui, não vai dar certo. Somos tão iguais e tão diferentes ao mesmo tempo, isso só nos fará mal. Chega.", mas parecia que ninguém se ouvia, pois no dia seguinte voltava tudo como era antes. E ficavam felizes, conviviam super bem até que caiam em si de novo. E vinha a conversa novamente, dessa vez, com desentendimentos e brigas.
Os dias passavam e não se tocava mais no assunto - estava tudo em completa harmonia! - Realmente, estava muito bom para ser verdade! Alguma música, algum texto, alguma frase, algum gesto e toda aquela paixão proibida voltava à tona junto com o auge da felicidade momentânea! E, por sorte, uma felicidade que durava mais que alguns minutos, chegava a uma, duas semanas... E depois, brigavam, discutiam, paravam de se falar. Isso já não era saudável para ambos, portanto resolveram botar um fim concreto e definitivo nisso. Se afastaram mesmo. Não se falam e se vêem apenas quando não é possível fugir. Telefones apagados da agenda e da lista de chamada. E-mails fora da lista de contatos e da caixa de entrada. A foto de plano de fundo no computador? Não se encontra nem na lixeira.
Ele? Quem é ele? Ela? Esqueci. Mas isso é só da boca pra fora, no fundo, apesar de todas as suas confusões, Ela sente. Sente falta das conversas e das discussões. Sente tristeza, raiva. E, cada dia que passa, Ela está mais e mais confusa e tem vontade extrema de sumir da vida. Ele sente também. Sente falta do corpo dela colado ao seu, sente dor. Mas cada vez mais se fecha em seu quarto escuro.Isso já não era saudável para ambos, portanto resolveram botar um fim concreto e definitivo nisso. Se afastaram mesmo. Não se falam e se vêem apenas quando não é possível fugir. Telefones apagados da agenda e da lista de chamada. E-mails fora da lista de contatos e da caixa de entrada. A foto de plano de fundo no computador? Não se encontra nem na lixeira.


"O amor pintam-no cego e com asas; cego para não ver os obstáculos; com asas para os transpor."
Jacinto Benavente y Martinez

"Só há amor quando não existe nenhuma autoridade."
Raul Seixas

ventou- Rolando Vezzoni

se foi aquele tempo de verão
como se vai aquilo que tem de ir
ele se levou
no ritmo de samba canção.

aquele ardor passado,
do tempo agora lembrado
e da bela de olhos cheios da mais pura alegria
que ainda me acordam na noite como agua fria.

com esse vento se foi um dia,
ainda após posto o por-do-sol...
também a noite se ia.
ah! eu com ela sorria.

foi-se tudo aquilo então.
mas nenhum amor se vai em vão...
acredito ainda que digam que não.
bom, este agora já se perdeu, ventou.